MEU LIVRO MÁGICO

Não tenho ideia de quantos livros já li na vida. Nem, tão pouco, a quantos filmes assisti. Acredito que isso acontece porque gosto muito de ler e de assistir filmes. Então, cada livro e cada filme exerce sua magia na minha vida. Durante toda a minha infância e adolescência, morava em uma casa de subúrbio. No quintal dos fundos, meu pai construiu a “bibli”, como carinhosamente chamávamos o quarto de tijolos, com uma porta e uma janela de madeira, onde estudávamos. Dentro, havia prateleiras para colocar nossos livros, uma prancha, onde escrevíamos e fazíamos as tarefas. Cada um tinha seu cantinho de estudo. E, na porta, um cartaz dizia: “Se um amigo impedido de interromper o horário de estudo fica magoado, não pode ser considerado amigo”. Então, quem ia se atrever a incomodar nosso horário de estudar, estipulado pelo papai e obedecido rigorosamente pela mamãe? Isso não significava que alguém ficava lá dentro policiando se estudávamos ou não, mas não podíamos ir para lugar algum que não fosse a bibli. Hoje, infelizmente, a bibli não existe mais no quintal da casa que sofreu uma reforma; mas meu irmão e eu jamais poderemos esquecê-la.

Tínhamos muitos livros nas estantes da bibli – nosso diminutivo carinhoso de biblioteca. Coleções importantes como a obra completa de Monteiro Lobato – infantil e juvenil – fascículos da coleção “Conhecer”, vendida na banca de jornais, uma coleção completa do Josué de Castro (que, infelizmente, nunca li e lamento porque mais tarde pude compreender a importância intelectual desse autor, ainda desconhecido da maioria da população brasileira). Além desses e muitos outros livros, havia a coleção que ocupava o lugar mais importante de todos: a Enciclopédia Barsa. Ela era o motivo de muitas das reuniões de grupo da escola serem lá em casa. Pelo menos, era a desculpa oficial; a oficiosa era que mamãe, sempre dedicada às gostosuras do fogão, caprichava quando tinha nossos colegas lá em casa para estudar: bolos, pastéis eram garantidos nessas ocasiões. Então, quem não queria fazer trabalho de grupo lá em casa?

Então, difícil escolher entre tantos livros o meu livro mágico. Entretanto, há um que me marcou profundamente, um livro de viagens que, ricamente ilustrado, descrevia o Vale do Loire, uma região próxima de Paris, às margens do Rio Loire, residência de muitos nobres do passado. Eu jamais havia visto um castelo, só nos livros infantis. Certo, nascera em uma capital cultural – o Rio de Janeiro – mas vivia a vida toda em um subúrbio. E, se nem no Rio de Janeiro há castelos, imagine o deslumbramento que aquele livro me causou. Não consegui lê-lo: era escrito em uma língua que eu não dominava e que, mais tarde, reconheci nas aulas de francês do colégio. Mas nem precisava entender o que estava escrito para saborear as imagens, cada fotografia mais linda que a outra.

Os anos se passaram, fiquei adulta, virei professora e nunca mais tinha pensado no Vale do Loire. Até que a vida faz surpresas… Um dia, lá estava eu visitando aqueles castelos que vivi na minha infância. Foi muita emoção, tão intensa em ver ao vivo e a cores aquelas imagens que tanto marcaram minha vida. Chamborg, com a escada dupla projetada por Leonardo da Vinci. Chenonceau, às margens do Rio Cher, e Cheverny com suas tapeçarias históricas.

Claro que adorei tudo. Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi descobrir mais sobre o grande artista chamado Leonardo da Vinci. Fiquei sabendo, por exemplo, que em 1515 ele foi convidado pelo rei Francisco I para morar no Castelo de Amboise. Lá instalou-se em um solar chamado Clos Lucé, onde passou a morar e trabalhar. Entre o solar e o castelo foi construído um túnel para que o rei – que não saía de seu castelo para visitar ninguém, porque, era o rei – pudesse visitar o Leonardo e com ele se aconselhar. Lá agora funciona um Museu, com maquetes das invenções daquele que hoje é conhecido como o cientista da modernidade. Só depois fiquei sabendo que o corpo do grande Da Vinci está sepultado na Capela de Saint-Huber, anexa ao castelo.

Nunca pensei que um livro de viagens escrito em francês – que eu não conseguia entender naquela época – poderia estar abrindo as portas para tantas experiências futuras.

Sobre Ynah de Souza Nascimento

Ajudo você a elevar sua auto-estima através do desenvolvimento da leitura direcionada e ferramentas poderosas. Mentora do Clube de LeiturAção, sua leitura sistêmica.
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Uma resposta para MEU LIVRO MÁGICO

  1. Gisele Cristina Sena da Silva disse:

    A Ladeira da Saudade, Duna, Razão e Sensibilidade e Harry Potter.

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